“ Você compreendeu o que é, então o que é tornou-se
real. Como a mente está constantemente se esquivando, fugindo, recusando-se a
ver o que é, ela cria os próprios obstáculos. Pelo fato de termos constantes
obstáculos que nos impedem de ver, não compreendemos o que é e, assim, estamos
fugindo da realidade. Ver o que é... requer uma grande capacidade e
conscientização... virar as costas para tudo o que construímos...” – J.
Krishnamurti – “A Primeira e Última Liberdade “ – pag. 202.
A pessoa deseja ficar rica, porisso faz apostas em
loterias. Sua felicidade é alcançar a riqueza. Este desejo esconde duas coisas.
Uma, a pessoa sofre porque não se torna rica e a outra sofre porque ainda
continua pobre. Sua realidade é a pobreza, coisa que ela não quer ver. Sua
pobreza física reflete sua pobreza psíquica, emocional, que é a causa real da
sua pobreza. A sua miséria interior lhe traz um sofrimento profundo, uma dor
quase insuportável, que para fugir desta dor a pessoa busca reprimir, negar,
recalcar, transferir ou sublimar os seus sentimentos. Este sofrimento fica
secretamente escondido dentro dela que, prisioneira dele, passa a sonhar com a
liberdade. Projeta para si ou para os outros uma vida rica e passa a viver
dessa projeção. Ela se torna quem não é e busca freneticamente algo que não
existe, pois sua mente enraizada em padrões de pobreza desconhece a riqueza, algo
que não sabe como lidar.
O que aconteceria se essa pessoa alcançasse a
riqueza desejada? A chegada da riqueza lhe traria a sensação de felicidade, mas
o seu relacionamento com os elementos da riqueza denunciariam a presença
daquele sentimento que ficara escondido. Estaria ela comprando um carro novo
para se sentir rica ou para afastar o estigma da pobreza? Se não olhar para a
sua Sombra vai optar por um carro que seja muito superior às suas próprias
necessidades. Nesse ritmo, em pouco tempo suas atitudes abririam as portas para
que a miséria interior viesse a se manifestar na vida rica, fazendo com que ela
tenha uma vida de pobreza dentro da riqueza, como era antes, ou ficando
verdadeiramente pobre materialmente.
A questão é: qual o real motivo que a move a fazer
apostas em loterias? É o desejo de ter uma vida mais confortável, ou a fuga de uma
vida detestável? Onde está o real sofrimento? Na alma, em ser um “pobre de
espírito” ou na vida material? Um prêmio de loteria resolveria o sentimento de
ser pobre encravado no íntimo? Haveria a possibilidade de qualquer coisa
externa aplacar este sofrimento?
Como a escolha foi a de buscar por prêmios
milionários, toda vez que se depara com alguém rico, uma dor vem á tona, que
não é admitida, a dor de sua pobreza. Para se livrar dela lança críticas à
pessoa rica. O sonhar com a riqueza, as imagens mentais imaginárias passam a
funcionar como anestésico dessa dor, e a necessidade de fazer as apostas é
inevitável, para se ter garantido o direito de sonhar e um lenitivo para a dor.
Diante da constatação que o premio não veio, a dor ressurge
violenta, porque foi reprimida. Dor porque não se alcançou a liberdade do
sofrimento e dor por permanecer na vida sofrida. Para não enlouquecer, a pessoa
se lança nas apostas freneticamente.
Encarar o que é!
É a outra escolha, a mais difícil! Abrir mão das
projeções. Encarar, de frente, sua própria pobreza. Olhar para os verdadeiros
sentimentos, para a dor, para as frustrações. Voltar-se para a verdadeira vida
que se está levando, para aquela que se tem. Enfrentar o que é real - a pobreza
interna manifestada na pobreza material, em outros termos “cair na real”. Defrontar-se
com os paradoxos, para as inconsistências, para as incoerências entre a vida
que se quer com a vida que se tem, algo do tipo, o dinheiro gasto com uma
aposta pode ser utilizado na compra de um quadro. O prêmio não veio, o que se
queria, mas a parede está enfeitada, o que se realmente tem. A felicidade está
em se sair da vida de penúria com as próprias idéias e criatividade, sabor este
que as projeções não vão dar, porque estão sendo aplicadas na vida real,
mudando definitivamente a realidade e mesmo havendo um prêmio de loteria, a
felicidade permanecerá, porque muda somente a base.
Algo parecido acontece no set terapêutico, muitas
pessoas declaram que suas vidas melhoraram, isto porque optaram por encarar o
que é, deixaram de viver nas projeções, se concentraram em viver suas
realidades, enxergaram a dor interna e se assumiram a partir dela e, por fim,
partiram para a vida explorando ao máximo os seus próprios recursos.
Por Silvio Farranha Filho Psicanalista
Por Silvio Farranha Filho Psicanalista
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