PROJEÇÃO DE SOMBRA,
Um caminho para se alcançar
o autoconhecimento!
Por Silvio Farranha Filho - psicanalista
Nosso
objetivo na vida é sabermos lidar com os acontecimentos difíceis: falecimentos,
separações, perdas, doenças, etc.
Saber lidar
significa fazer a escolha certa. É preciso aprender, tirando as lições das
nossas experiências.
O
conhecimento adquirido influencia a nossa escolha, decisão e atitude. Agimos
conforme nossa essência, com o que sabemos sobre nós.
A origem
do aprendizado é com nossos pais no lar da infância. Eles aprenderam com nossos
avós. O padrão emocional é passado através das gerações. Também faz parte a
ciência, religião, filosofia e cultura.
Qual o conhecimento capaz de proporcionar tal
dinâmica?
O
conhecimento sobre nós mesmos, o autoconhecimento! Se na cidade de São Paulo
vários caminhos nos levam à Praça da Sé, assim, há inúmeros caminhos para o
auto-aprendizado.
Conhecer
quem sou, saber o que desejo de fato, como eu funciono, quais crenças me regem,
como afeto e sou afetado pelo meio-ambiente, o que eu vejo, como vejo e o que
faço com o que vejo, são informações essenciais que podem ser adquiridas
através da Projeção de Sombra!
É alcançar
o conhecimento pessoal através do mergulho no próprio inconsciente através da
observação atenta dos eventos que nos envolvem na vida diária.
Sombra: o que é?
Em 1945, Jung deu uma definição mais direta e clara
da sombra: “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser” (CW 16, parág. 470). O criador do processo quer dizer que a pessoa
tenta ser o que ela não é! Se ela quer ser feliz, é porque é infeliz. Como o
cérebro rejeita o desconhecido e se firma no que é conhecido, suas ações
reforçarão a infelicidade, pois ela é a conhecida.
Para
trilhar o caminho pela projeção de sombra, o viajante deve ter em mente os
seguintes pontos:
Polaridade/[i]Dualidade
A nossa mente vê o mundo em pares de opostos, como
paz/guerra. A dinâmica da dualidade é: Um pólo é contrário e complementa o
outro. Um depende do outro para existir e ambos geram o ritmo. A moeda Paz tem
dois lados, o lado-guerra e o lado-paz. Os dois pólos se manifestam
simultaneamente. Um pólo ao se tencionar até o limite provocará a manifestação
do outro. Se um pólo está presente é porque o outro ainda não se manifestou. Se
um pólo for destruído, o outro também será.
É na
dinâmica da dualidade que aprendemos a fazer escolhas. Os pólos opostos obrigam
a se fazer uma escolha. Fazer a escolha por uma dentre duas alternativas.
Fazemos escolhas o tempo todo. Ao se fazer uma escolha deve-se vive-la
totalmente e de novo ao ponto de escolha, opta-se agora pelo outro pólo. Se não
se fizer escolha, a não-escolha já é uma escolha. A vivência dos dois pólos
gera o conhecimento total da dualidade, o que nos permite fazer a escolha certa.
A Sombra
É uma
região interna onde estão depositados diversos conteúdos; sentimentos difíceis,
perturbadores, pecaminosos, inconfessáveis; pensamentos e atitudes
desconhecidas; emoções e desejos reprimidos, recalcados, negados; dor
profundamente enraizada (origem em gerações ou existências passadas); raiva
secretamente escondida, mágoas, ressentimentos, frustrações. Estes conteúdos
não desaparecem e se projetam na vida cotidiana, criando acontecimentos e
conflitos, perturbando a emoção da pessoa. Sombra é tudo aquilo que temos medo
ou odiamos.
Lar da infância
Na gestação absorvemos todas as vibrações e o
funcionamento do nosso lar: a relação, os sentimentos, as emoções e a
autoridade dos genitores ou responsáveis. À medida que nos desenvolvemos liberamos
tais vibrações, razão dos conflitos entre pais e adolescentes. Fora de casa,
liberamos nas pessoas revestidas de autoridade. As vibrações absorvidas junto
ao pai são liberadas nos conflitos com homens e as absorvidas com a mãe, junto
às mulheres. Transferimos para os ambientes o mesmo clima doméstico e tentamos
corrigir o que há de errado com os nossos genitores nas pessoas do nosso
convívio.
Crenças perniciosas
As crenças
são as raízes dos conflitos emocionais. Elas criam a Sombra. Identifica-las é o
objetivo maior do processo de projeção de Sombra. Uma vez erradicadas, promovem
a extinção dos conflitos. Crença não é o que se acredita. É o que se manifesta
ou se materializa em resultados.
Crenças são as manifestações do que realmente acreditamos. Por serem
invisíveis aos nossos olhos necessitamos de ajuda profissional para
identifica-las. Ex. uma pessoa se define como próspera, mas corre ao mercado
quando ouve que vão faltar produtos. Julgando-se crer na prosperidade, sua
atitude denuncia a crença na escassez.
As crenças
nascem das mensagens subliminares (diretas ao inconsciente) que recebemos no
lar da infância, das nossas observações ao longo da vida, e dos conseqüentes
diálogos internos que formatamos. Um exemplo é o conselho dado por uma mãe ao seu
filho: “Você é muito jovem para namorar, estude primeiro!”. A mensagem
subliminar é que a mulher é má e poderá destruir sua carreira, baseada na
crença na destruição. O jovem manifestará essa crença vendo as mulheres apenas
como diversão, não se envolve seriamente ou vive de encontros e desencontros,
onde as parceiras se queixam que quando elas pensam que a relação vai acabar
ele se aproxima, quando pensam que a relação vai se firmar, ele se afasta.
Inconscientemente ele está tentando preserva-las até o final dos estudos.
Outro
exemplo é a criança acordar à noite chamando a mãe e o pai é quem atende. Sem
saber do acordo feito entre eles, começa chamar a sua atenção a vinda do pai.
As repetições criam diálogos que instalarão a crença na rejeição, tais como:
“Toda vez que chamo minha mãe, é meu pai que vem!”, “Se toda vez que chamo por
minha mãe é o meu pai que vem, então, acho que minha mãe não gosta de mim!”, “É
sempre a mesma coisa! Minha mãe não gosta de mim mesmo!”, “Eu sei que minha mãe
não gosta de mim, e tenho a certeza de que jamais gostará!”
Erradicar
crenças é a chave. Somos escravos das nossas convicções. Temos a vida no qual
acreditamos, na qual atraímos, seja doenças, criminalidade, morte, guerras.
Alguns
tipos: crença na inferioridade, na limitação; na falta e escassez, no não
merecimento; no desejo de estar indo em outra direção; na resistência a
compromissos; na perda do senso da ação e prioridade; no abrigo e proteção; no
ressentimento, na raiva e culpa; no medo e desconfiança; na defensiva, no mundo
hostil e ameaçador.
Como a Sombra se apresenta diante de nós?
Não vemos a
Sombra diretamente, somente através do outro. Como esquecemos de nós, o papel
do outros é nos refletir! A Sombra reside dentro de nós, mas se manifesta fora.
Aonde formos ela nos acompanha. Então cada situação, cada pessoa e cada coisa
refletem a nossa Sombra, ou quem somos, de verdade. Como dois corpos não ocupam
o mesmo lugar no espaço, não podemos entrar dentro das pessoas e ver o que elas
vêem e dar a mesma opinião que elas. Só vemos conforme nossos conteúdos
internos, o mesmo se dá com o outro que nos vê conforme seus filtros. Todo
relacionamento é projeção e tudo na vida é relacionamento. Não há contato real,
só projeção. Na conversa com uma pessoa, nos projetamos sobre ela e ela se
projeta sobre nós. Ao darmos um conselho a alguém, no fundo estamos dando a nós
mesmos. Devemos perceber e retirar nossas projeções, como também, devolver as
projeções do outro. Quanto mais nos conhecemos mais percebemos o outro como ele
é.
A Sombra se
apresenta no exato instante em que percebemos uma sensação de conforto ou
desconforto.
Desconforto: Ao dizer que não gostamos de uma pessoa por a acharmos
falsa de caráter, a falsidade que vemos está escondida dentro de nós. Estamos
diante da nossa própria falsidade que não enxergamos ou que não admitimos sua
presença. Como a mesma pessoa pode ser verdadeira para alguém, então o que
vemos nela é o nosso reflexo. Ela está nos refletindo. Assim, tudo o que nos
irrita, incomoda, aborrece é sempre o que está mal resolvido em nosso interior.
Conforto: Ao
dizer que admiramos a inteligência numa pessoa, a inteligência que percebemos é
a nossa necessidade de sermos ou de nos sentirmos inteligentes. Estamos diante
das nossas necessidades emocionais. A mesma pessoa pode ser “tapada” para
outras. Assim, tudo o que nos apaixona, seduz, atrai são as nossas próprias
necessidades, às quais devemos atende-las.
Estamos
diante da nossa Sombra no exato instante em que: nos relacionamos com objetos,
situações, pessoas; nos sentimos incomodados/apaixonados; emitimos opiniões,
impressões, interpretações, conselhos, críticas e julgamentos; experimentamos
repetições; desejamos que o outro mude; dialogamos internamente; fazemos
escolhas; vivenciamos vícios e rotinas.
Como reagimos diante da Sombra?
Nossa
primeira reação é a FUGA! Negamos que possa existir algum problema conosco. Nos
queixamos de pessoas autoritárias e vamos nos defrontar com elas no local de
trabalho, no clube, na escola. Esta é uma forma de fugir da Sombra, daquilo que
nos incomoda.
Nossa
segunda reação diante da Sombra é a NEGAÇÃO!
Nesta fase, nem debaixo de torturas iremos admitir
que aquilo que detestamos em tal pessoa reside dentro de nós. Reclamamos que o
nosso chefe é arrogante, porém no restaurante tratamos com arrogância o garçon
pelo atendimento, sem perceber que nossas “falas” em relação aos dois são as
mesmas.
Nossa
terceira reação diante da Sombra é a ACEITAÇÃO!
Nesta fase conseguimos perceber que possuímos algo
das pessoas que nos incomodam e que estamos prontos para encarar este fato.
Esta é a chave para tornar a Sombra a nossa aliada. O segredo é sair da crítica
e do julgamento.
Como tornar a Sombra a nossa aliada?
Não nos
iludamos! É apenas a ponta do iceberg. A simbologia nos diz que os 20% acima da
superfície da água referem-se ao nosso consciente e os 80% submersos
representam o nosso inconsciente. Autoconhecimento é trazer o que está submerso
à superfície. É estar cada vez mais consciente das partes inconscientes. Sempre
teremos Sombra, que também é coletiva, pois trazemos na psique os conteúdos de
toda a humanidade. Instituições e localidades também têm Sombra que é a soma
das Sombras de cada membro.
O caminho
do viajante é aprender a fazer a escolha certa e a sua Sombra pode ser sua
aliada. Ela tem o poder de lhe fornecer informações sobre seus mais profundos
sentimentos, desde que desperte o observador de si mesmo. É sábia conselheira.
Porém extremamente perigosa se não
receber atenção, levando-o se defrontar com ela através de experiências
hospitalares, ocorrências policiais e até mesmo sepultamento. Aceitar a
contribuição da Sombra é facilitar a comunicação entre consciente e
inconsciente. Atitudes radicais mostram tentativas de “matar” a Sombra fazendo
com que o viajante se defronte com ela, logo mais à frente, em situação ainda
mais complicada.
Assim, o
viajante deve: ouvir os próprios sentimentos; prestar atenção às suas falas
internas; viver no momento presente aceitando sua própria realidade; estar atento
aos seus movimentos; eliminar a crítica e o julgamento; reconhecer que vive
numa rede psicológica onde o seu emocional se mistura ao emocional de cada
pessoa com quem convive e o que vê no grupo também está em si, em nível
psicológico; extrair lições de toda experiência, pois tudo são informações a
seu respeito; tirar suas máscaras, confessando a si mesmo os seus sentimentos
mais perversos; admitir que o outro é o seu próprio espelho; enxergar que não
existe o perdoar as pessoas, ninguém perdoa ninguém, o que existe é o
auto-perdão! O perdoar a si mesmo; mudar sua visão, a forma como vê a vida;
erradicar crenças perniciosas; corrigir pequenos delitos; aceitar o fato que é
a sua Sombra quem atrai tudo o que lhe acontece, motivada por suas próprias
crenças; fazer escolhas coerentes com o seu ser; posicionar-se corretamente,
sendo fiel ao seu jeito, ao seu ritmo, ao seu tempo, conforme sua emoção e
jamais, jamais recusar um conflito.
Assim, o viajante estará diante da própria LUZ! Com profundo conhecimento
de si mesmo!
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