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Este ensaio ficou longo, infelizmente. Não foi tão simples colocar
estas idéias no papel, quanto pensei. Porém, a compreensão deste tema vai
facilitar nossa percepção sobre nós próprios. Estou torcendo para isto! Então,
vamos lá!
Quando estamos diante da tv assistindo um programa que mexe com as
nossas emoções, tais como, filmes, novelas, esportes, algo mágico está
acontecendo no momento. Desfrutamos da experiência que o evento nos
proporciona, e vivenciamos uma réplica daquele mesmo programa no nosso mundo
emocional.
É o nosso inconsciente desejando passar uma mensagem importante sobre
algum aspecto da nossa vida. Utiliza-se do programa para se fazer visível,
reconhecido. As emoções experimentadas no evento estão, também, presentes na
nossa vida cotidiana.
O destaque deste ensaio fica por conta daquelas emoções que nos afetam
profundamente de forma positiva ou negativa. A identificação com as
emoções propostas pelo evento, algo do tipo, um torcedor não vai sorrir
ao ver seu time perder, mas, sofrer demais mais ou ficar insensível à perda, é
a questão.
A identificação com as emoções é chamada de projeção ou transferência.
Algo que está escondido dentro de nós se transfere para o programa. Graças a
esta dinâmica, podemos descobrir a mensagem e integrá-la em nossa vida. Ex. o
jogador deixou a bola escapar e ficamos furiosos, o nosso inconsciente está nos
dizendo que não estamos agindo com firmeza em alguma área da nossa vida.
O tratamento consiste de um trabalho interessante e divertido. Vamos
tomar como exemplo a novela, pois ela envolve uma trama. Nas tramas
hollyoodianas mais antigas, os elementos mais comuns eram: A Donzela,
O Vilão, O Herói, A Saga:
A donzela - Geralmente vive despreocupada até ser raptada pelo vilão.
Subjugada, sofre muito e deseja com desespero ser salva. Está sempre em perigo.
O seu clamor atrai um salvador. Uma vez salva, casa-se com o seu salvador ou
lhe dá o beijo compensador.
O vilão - Quem dá origem à saga, é audacioso, ambicioso, inteligente,
mau-caráter. Deseja dominar o mundo. Rapta a donzela seja para si ou para
exibí-la como troféu. Obtém notoriedade. Enfrenta o perigo e depois se torna o
próprio perigo. Cai fatalmente diante do seu maior obstáculo: o herói.
O herói - É quem finaliza a trama. Também audacioso, inteligente,
mas bom-caráter. Sensibilizado pelo clamor da donzela arquiteta um plano para
salva-la. No desdobramento das ações sofre derrotas parciais, mas para alcançar
a vitória final vem a matar o vilão e como prêmio conquista a donzela e vão
viver felizes.
A saga - Mais conhecida como a jornada do herói é o caminho que o
herói traça para impedir que o vilão conquiste o mundo e resgatar a donzela.
Vejamos os personagens íntimos:
O nosso lado-vilão - quele lado que encarna os nossos desejos
abomináveis, ambiciosos, pecaminosos, perturbadores. Promove ações das
quais nos envergonhamos. Na telinha é aquele personagem quem lançamos nossas
críticas e julgamentos, pois mostra tudo aquilo que não queremos ver ou
reconhecer. O nosso lado-vilão é a nossa Sombra.
O nosso lado donzela-em-perigo - Aquele lado que não deseja ter
problemas, só quer sossego. É vítima de um ataque promovido pelo outro. Sofre,
chora, lamenta, com as emoções sempre em perigo. Deseja a libertação do
sofrimento. Na telinha é aquele personagem quem desejamos acolher,
identificados com o seu sofrimento. É o nosso lado
"coitadinho-de-mim" lamentando que era feliz!
O nosso lado-herói - quele lado que tem as condições necessárias
para resolver a situação, mas que não confiamos o suficiente. Quer matar a todo
custo a causa dos nossos sofrimentos. Na telinha é aquele personagem que tem
tudo de bom que nos falta e nele transferimos nossos sentimentos de coragem,
bravura, inteligência, etc.
Identificando as projeções - Os personagens masculinos representam
o lado masculino nos homens ou o animus nas mulheres. Os personagens femininos
representam o lado feminino nas mulheres ou a anima nos homens.
Observemos quais personagens nos encantam ou que nos incomodam, e como
nos sentimentos em relação às tramas, confortáveis ou desconfortáveis.
Se a vitória desejada não aconteceu, pode ser que estamos carentes de
vitórias pessoais e transferimos a sensação de vitória para a trama. A derrota
na trama nos faz sofrer duas vezes. O personagem não agiu conforme queríamos,
talvez não estamos aceitando as nossas próprias ações. Queremos que o
personagem faça o que não estamos conseguindo fazer. Se as cenas parecem
violentas demais, chegou o momento de olhar para a própria violência interna
que está secretamente escondida dentro de nós. São imorais? É o momento de
lidarmos com a falsidade e hipocrisia das nossas convicções pessoais! É tudo
aquilo que gostamos? Olhar honestamente nossa pobreza interna, escassez, privações
e carências. É apaixonante? Olhemos para as necessidades emocionais e eróticas
que nos assolam. São perturbadoras e difíceis? Um olhar para o que está mal
resolvido em nós.
Ofereço estes questionamentos para auxiliar nas percepções:
Em relação ao herói - Com o quê eu me identifico com o herói do evento? Quem é a vítima que devo salvar e quem é o vilão que devo atacar? O que admiro em mim? O que rejeito? O que vai me compensar emocionalmente?
Em relação ao herói - Com o quê eu me identifico com o herói do evento? Quem é a vítima que devo salvar e quem é o vilão que devo atacar? O que admiro em mim? O que rejeito? O que vai me compensar emocionalmente?
Em relação à donzela em perigo: Quem é o herói que vai me salvar, quem
é o vilão que me ameaça? Cuido de mim ou desejo ser cuidado? Que liberdade
almejo ou que prisão me encontro? Como vou compensar a minha vitória?
Em relação ao vilão - Onde me sinto vilão? Quem estou atacando e
quem irá salvar? Onde sou ameaçador? Que sentimentos me movem?Com quem ou o quê
vou fatalmente me defrontar?
Em relação à trama - Onde na minha vida estou vivendo esta trama? Vivo
perigosamente? Estou enfrentando os conflitos ou simplesmente fugindo? Como
lido com as mudanças, aceito ou resisto?
Em relação à jornada do herói - Para onde vou? De onde venho? O
que faço aqui? É possível chegar lá? Quais as soluções reais a separação, o
prêmio de loteria, a demissão do emprego vão trazer? Devo realmente matar ou
conversar com o vilão? É possível a integração do vilão?
Assim, a trama que está se desenvolvendo na novela, é um reflexo da
trama da nossa vida, ela está nos convidando a refletir e aprender sobre nós
próprios. Como extrair lições? Escreva para você os finais das tramas, faça
suas modificações nos capítulos, o que você fizer à novela, serão as suas
próprias propostas na vida real. Aceite o final dado pelo autor, mas viva o
final que você der.
Quanto mais pudermos dar asas à nossa imaginação, melhores ficam as
respostas. Como resultados obtemos aumento da capacidade de percebermos a nós
próprios, de nossas escolhas, resolver problemas complicados com soluções
simples, reconhecer anossa identidade real.
Por Silvio Farranha Filho - psicanalista
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