JULGAMENTOS!
Por
Silvio Farranha Filho – psicanalista
«Não julgueis e não sereis julgados... » Jesus (Lucas 6,37)
«Não é o que entra pela boca que contamina o homem,
mas o que sai da boca,
porque procede do coração» Jesus (Mateus
15; 18-19 )
Examinando estes dois
ensinamentos deste Supremo Avatar à luz do processo de Projeção de Sombra,
encontraremos coisas bem interessantes.
A Física nos diz que dois
corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo no mesmo espaço. Para compreender
o que uma pessoa está falando seria preciso entrarmos dentro dela, ver o que
ela vê e sentir o que ela sente, para falarmos o que ela está falando. Se pudéssemos
fazer isso, nós seríamos ela e não nós mesmos.
Só podemos compreender o
outro a partir de nós próprios, do nosso ponto-de-vista, da nossa perspectiva.
Isto quer dizer que somete interpretamos
o outro.
Eis o que acontece. Ocorre
um fato. Ao olharmos o fato interpretamos e damos a resposta ao fato com um juízo
de valor acrescido de nosso conteúdo interno.
O processo é simples. O
nosso olhar, assim como os demais órgãos dos sentidos captam a informação. A
informação é transportada para o nosso sistema corpo-mente. A informação passa
pelo crivo da nossa história de vida, pelas nossas crenças e valores e dispara
os gatilhos de nossas experiências em relação ao fato. Isto resulta num sentimento o qual será associado
à nossa interpretação. Somos escravos
deste sentimento gerado. Ao darmos uma resposta ao fato colocamos algo a mais de nós, (que é o sentimento
gerado) que entrará no outro como mensagem subliminar.
Na interação com o outro
não estamos ouvindo exatamente o que o outro está dizendo, estamos ouvindo conforme os nossos ouvidos pois cada
palavra que ouvimos dispara os gatilhos das coisas que estão em nosso íntimo. Quanto
mais ouvimos, mais estamos perturbados com as nossas coisas.
O problema fica agravado
porque não entramos em contato real com o outro, nós nos relacionamos com o
outro a partir de nossas interpretações. Aquilo que vemos no outro, não pertence ao outro, e sim,
exclusivamente a nós. Em outras palavras projetamos.
Tudo na vida é relacionamento e todo relacionamento é projeção e toda projeção
é JULGAMENTO!
Assim, estamos julgando
quando:
-analisamos, comparamos, falamos
de algo e/ou comentamos um fato.
-emitimos uma opinião.
-quando criticamos, censuramos
e/ou emitimos juízo de valor.
Tudo que sai de nós é
julgamento, abrimos a boca e... já estamos julgando!
Julgamos com extrema
rapidez de acordo com a nossa “verdade”. Esta “verdade” é a nossa Sombra
(coisas recalcadas, reprimidas, negadas, que escondemos dos outros por medo e
vergonha). Somos julgadores e por tabela... também somos julgados!
Um pequeno exemplo. A
frase “O que os políticos só sabem fazer é roubar”!
Ao dizer isto aquele algo
que tanto incomoda o emissor é justamente o roubo, mas que ele esconde de
si mesmo e dos outros.
Para sair deste tipo de projeção basta completar a
frase: “Os que políticos só sabem fazer é roubar... assim como eu... como eu
faço... etc.”. O outro reflete quem
somos.
Para sairmos das
projeções e termos uma troca mais honesta e saudável podemos fazer o seguinte:
Ao ouvirmos, perguntar: “O que acabei de ouvir é exatamente o que você
realmente disse?. Ao falarmos, perguntar: “O que você entendeu do que eu disse?”
e por último é ouvir o que estamos dizendo.
Como projetamos sobre
o outro e o outro também projeta sobre nós, todos somos vítimas!