Por Silvio Farranha
Filho – psicanalista
Vamos dividir o tempo de um
segundo em mil partes, a parte dividida é a fração de milésimo de segundo. A
duração de um tempo num milésimo de segundo. Este é o tempo que dura uma
sensação que sentimos, seja uma sensação de incômodo ou desconforto ou uma
sensação de atração ou de conforto. É o tempo que dura nossa primeira impressão
quando vemos uma pessoa pela primeira vez, uma imagem, uma notícia. É também a
fração de tempo que dura o nosso contato com a nossa Sombra.
Em 1945, Jung declarou que Sombra
é o que uma pessoa não deseja ser.
Assim, nós não nos conhecemos
totalmente, não temos a coragem de puxar a cortina e nos vermos como realmente
somos, escondemo-nos de nós mesmos, carregamos emoções escondidas, temos uma
vida dupla: a vida pública e a vida privada. Somos possuídos e dirigidos por
aquilo que não conhecemos de nós mesmos, mas que são partes de nós, somos nós.
As partes que não conhecemos
sobre nós ou desconhecidas da nossa personalidade, seja tanto o nosso potencial
criativo quanto o nosso poder destrutivo, residem no que é chamado de Sombra. Os
conteúdos negativos são sentimentos e pensamentos que nós não enxergamos que
temos. Emoções e desejos reprimidos, recalcados, negados, não confessados,
pecaminosos. Os mais perniciosos são as nossas crenças pessoais, raízes de toda
emoção negativa. Estes conteúdos invisíveis para nós são vistos no outro. Sombra
é o que vemos no outro, tipo, ele é ciumento! Isto significa que não estou vendo
em mim o quanto eu sou ciumento. Eles não tratados fazem pressão para vir à
tona, apontando para o que realmente estamos fazendo, para que assumamos nossas
responsabilidades para as coisas que fazemos e dizemos que não queremos fazer,
para os pensamentos que temos e dizemos que não queremos ter, a assumir
sentimentos que dizemos não querer sentir. Não assumir o conhecimento de tais
partes desconhecidas é extremamente perigoso, assim, hospitais, penitenciarias
e cemitérios são as consequências inevitáveis da nossa inconsciência.
O contato com a Sombra se dá
através das sensações que nos incomodam num milésimo de segundo diante das
pessoas, coisas e acontecimentos. Sensações intensas, profundas que acontecem
num piscar de olhos.
Alguns exemplos: Vimos uma pessoa
receber uma menção honrosa. Vamos admitir naquele milésimo de segundo a
ocorrência de sensações negativas, tais como inveja, raiva, desprezo, despeito
em nosso interior? Uma pessoa de quem não gostamos foi prejudicada. Vamos
admitir a passagem das sensações de prazer, vingança e raiva? Diante da vitória
do outro: temos a coragem de admitir para nós mesmos que estamos sentindo dor
de cotovelo?
Por que estas coisas nos
acontecem? Por que experimentamos, sem a nossa vontade, várias sensações
indesejáveis e inconfessáveis ao mesmo tempo, no intervalo de um milésimo de
segundo? São exatamente os fatos, as pessoas, os acontecimentos que nos
provocam diretamente tais sensações? Ou, os eventos são gatilhos que disparam algo
que já reside em nós?
O que acontece é que nossas
crenças pessoais encontraram em tal oportunidade uma forma de se apresentar a
nós, tornarem-se visíveis, conhecidas, necessitando ser tratadas e conscientizadas.
Exemplo: colocamos a segurança na primeira pauta das nossas vidas, quando estamos
sendo regidos pela crença que o mundo é hostil e cruel e que o outro tem o
poder de nos destruir. Corremos de imediato para atender uma promoção por tempo
limitado, quando estamos sendo movidos pela crença da escassez, que diz não há
tudo para todos.
Ao percebermos uma sensação de
desconforto é chegada a hora de iniciarmos um processo interior. Investigar a
fundo a origem de tal sensação. Confessar sentimentos secretos. Descobrir o que
negamos até debaixo de tortura. Encontrar a crença perniciosa. Sermos honestos
conosco. Enquanto não trouxermos à tona tais conteúdos continuaremos sendo
assombrados por tal sensação, correndo o risco de precipitar ações das quais
nos arrependeremos amargamente. Uma vez erradicadas as crenças perniciosas nos
tornamos pessoas livres com uma forma de ser, de agir e de pensar que nos traz
sentimentos de contentamento e paz.
Por Silvio Farranha Filho – psicanalista
Por Silvio Farranha Filho – psicanalista
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