É
comum encontrarmos na cultura das famílias a figura do médico, do benzedor, do
pai-de-santo, da religião, do remédio, da magia, do espiritual, da filosofia.
No entanto, é difícil encontrarmos a figura do terapeuta, pois a grande maioria
das famílias ainda não cultua o terapêutico, não acreditam ainda que terapia
pode resolver todo tipo de problema. Nas famílias onde a figura do terapeuta
está presente, os membros que freqüentam o set terapêutico são
taxados de doentes, e durante o período de acompanhamento, muita vez às
escondidas, estão apressados em “curar-se” o mais rápido possível, para
retornarem ao seio das famílias como “normais”, acarretando prejuízos ao
desenvolvimento do lado terapêutico da personalidade.
Como seria a qualidade
das nossas vidas se todas as pessoas adotassem a cultura terapêutica em seu
modo de viver?
O terapeuta é o
profissional que lida com as emoções que “adoecem”, e o faz através do diálogo.
As medidas terapêuticas são ministradas durante a análise das experiências
emocionais do cliente. Como diz uma importante Entidade Espiritual em seus
livros psicografados: o terapeuta é o profissional que auxilia a razão, ilumina
a consciência e ampara os sentimentos.
A cultura terapêutica é
adquirida através da relação cliente-terapeuta. Em se tratando de uma relação,
como em todos os relacionamentos, também ocorre a troca. De um lado o terapeuta
tem um mistério a ser decifrado e só consegue auxiliar o cliente quando
identifica em si mesmo o conflito de que o cliente é portador. Do outro, o
cliente absorve a metodologia do profissional que escolheu, que é aquela
habilidade de fazer a pergunta certa diante dos seus sentimentos e emoções,
passando a faze-las a si próprio.
À medida que o cliente
vai absorvendo o “jeito” de lidar com suas próprias emoções, desliga-se pouco a
pouco do set, tornando-se, então, o seu próprio terapeuta. Expressa essa
cultura nas suas escolhas, decisões e atitudes, influenciando positivamente o
meio onde vive.
Como este estágio é
difícil de ser alcançado, não encontramos com facilidade mecânicos-terapeutas,
benzedores-terapeutas, profissionais em suas atividades de origem exercendo o
lado terapêutico da personalidade, preocupados com a vida psicológica, tanto
para si quanto para os outros, exceção feita àqueles que o fazem por missão
pessoal. Porém, é comum dizermos: “vou a tal lugar porque lá é uma terapia”.
Muitas são as razões
para isto acontecer: o medo da permanência indefinida no set; a crença do
tratamento ser caro e demorado; a crença do “posso resolver sozinho” ou “a
religião resolve”, o medo de reconhecer-se “doente”, a visão de que apenas as
mulheres são beneficiadas pela disseminação da psicologia na mídia.
Uma vez no set, o
primeiro estágio a ser alcançado é o da confiança mútua. As dificuldades da
relação com a autoridade dos pais são transportadas para a relação com o
terapeuta. O terapeuta sendo homem evoca a projeção da figura paterna, sendo
mulher, evoca a figura materna, exigindo de cada um a calma e paciência para
que as arestas da relação sejam aparadas a fim de tornar o ambiente propício
para o cliente sentir-se confortável, aceito e acolhido.
Alcançado o ambiente
terapêutico, o cliente inicia a jornada do Herói Interior. A trajetória
do Eu no mundo psíquico pode ser visualizada, com muita propriedade,
através da narração do professor Laureano Guerreiro:
“... Naquele momento
passei a cuidar e a reconhecer o meu mundo interior, ampliei a escuta de minhas
emoções, reaprendi a chorar, a olhar e aceitar as minhas precariedades e minha
grandeza, as feridas da criança que me habita, o pai e a mãe que trago em mim,
a minha história e a história de minha família. (...) redescobri o meu corpo
(...) enfrentei o medo do amor, o medo da solidão e o medo da felicidade.
Aprendi a ser mais livre e despertei – adormecida por tantos anos – um pouco da
minha alegria por estar vivo...” (A Educação e o Sagrado, pág 15)
A jornada vai do estágio
de limpeza emocional, o mais dolorido, por tratar das feridas, para o estágio
do autodesenvolvimento. Neste último, o Herói Interior alcança a visão
necessária de seu mundo psíquico, passando a cuidar de si mesmo, extraindo
lições de suas próprias experiências.
Com a assistência do
terapeuta, o cliente realiza excursões ao mundo dos seus sentimentos, indo ao
encontro daqueles sentimentos que são difíceis, perversos, perturbadores,
inconfessáveis, pecaminosos, que jazem escondidos. Apesar de doloroso, o
contato com eles torna-se libertador.
Estes encontros resultam
na mudança de paradigma: mudança no olhar do cliente. Ele deixa de estar no
outro. Elimina a visão do outro como o culpado dos seus problemas, abandona a
atitude de exigir que o outro faça ou seja o que deseja para se sentir feliz,
encerra a exigência de que as coisas saiam do jeito que ele quer, reconhece que
não precisa mais exercer poder sobre o outro, manipulando-o. Passa a voltar-se
para si próprio. Não se vê mais como o culpado, sai da compulsão para a
aprovação, abandona a necessidade de ter poder sobre o outro, deixa de
acionar defesas psicológicas para fugir do dever, erradica de si crenças
perniciosas, tais como superioridade, inferioridade, escassez, abrigo e
proteção, liberta-se do lado “coitadinho” e do sentimento de culpa.
Vivendo a cultura
terapêutica adquire profunda compreensão da Vida e de suas leis espirituais,
conexão com o Divino expressada na forma “Pedis e Obtereis”, vivência da Sincronicidade,
que é estar no lugar certo, na hora certa, com uma profunda capacidade de
permissão e de entrega, fazendo acontecer o que tem que acontecer e crendo que
tudo está sempre certo no Universo.
Então, quem não deseja
viver assim, não é mesmo?
Por Silvio Farranha Filho
– psicanalista
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