Eu

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O iceberg tem como propriedade a sua parte acima da superfície representa apenas 20% de seu tamanho total. Os restantes 80% ficam submersos. Por analogia, 20% do que sabemos sobre nós, está no nosso consciente e os 80% que não sabemos sobre nós, estão no nosso inconsciente.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

CULTURA TERAPEUTICA





 É comum encontrarmos na cultura das famílias a figura do médico, do benzedor, do pai-de-santo, da religião, do remédio, da magia, do espiritual, da filosofia. No entanto, é difícil encontrarmos a figura do terapeuta, pois a grande maioria das famílias ainda não cultua o terapêutico, não acreditam ainda que terapia pode resolver todo tipo de problema. Nas famílias onde a figura do terapeuta está presente, os membros que freqüentam o set terapêutico são taxados de doentes, e durante o período de acompanhamento, muita vez às escondidas, estão apressados em “curar-se” o mais rápido possível, para retornarem ao seio das famílias como “normais”, acarretando prejuízos ao desenvolvimento do lado terapêutico da personalidade. 

Como seria a qualidade das nossas vidas se todas as pessoas adotassem a cultura terapêutica em seu modo de viver? 

O terapeuta é o profissional que lida com as emoções que “adoecem”, e o faz através do diálogo. As medidas terapêuticas são ministradas durante a análise das experiências emocionais do cliente. Como diz uma importante Entidade Espiritual em seus livros psicografados: o terapeuta é o profissional que auxilia a razão, ilumina a consciência e ampara os sentimentos. 

A cultura terapêutica é adquirida através da relação cliente-terapeuta. Em se tratando de uma relação, como em todos os relacionamentos, também ocorre a troca. De um lado o terapeuta tem um mistério a ser decifrado e só consegue auxiliar o cliente quando identifica em si mesmo o conflito de que o cliente é portador. Do outro, o cliente absorve a metodologia do profissional que escolheu, que é aquela habilidade de fazer a pergunta certa diante dos seus sentimentos e emoções, passando a faze-las a si próprio. 

À medida que o cliente vai absorvendo o “jeito” de lidar com suas próprias emoções, desliga-se pouco a pouco do set, tornando-se, então, o seu próprio terapeuta. Expressa essa cultura nas suas escolhas, decisões e atitudes, influenciando positivamente o meio onde vive. 
  
Como este estágio é difícil de ser alcançado, não encontramos com facilidade mecânicos-terapeutas, benzedores-terapeutas, profissionais em suas atividades de origem exercendo o lado terapêutico da personalidade, preocupados com a vida psicológica, tanto para si quanto para os outros, exceção feita àqueles que o fazem por missão pessoal. Porém, é comum dizermos: “vou a tal lugar porque lá é uma terapia”.  

Muitas são as razões para isto acontecer: o medo da permanência indefinida no set; a crença do tratamento ser caro e demorado; a crença do “posso resolver sozinho” ou “a religião resolve”, o medo de reconhecer-se “doente”, a visão de que apenas as mulheres são beneficiadas pela disseminação da psicologia na mídia. 

Uma vez no set, o primeiro estágio a ser alcançado é o da confiança mútua. As dificuldades da relação com a autoridade dos pais são transportadas para a relação com o terapeuta. O terapeuta sendo homem evoca a projeção da figura paterna, sendo mulher, evoca a figura materna, exigindo de cada um a calma e paciência para que as arestas da relação sejam aparadas a fim de tornar o ambiente propício para o cliente sentir-se confortável, aceito e acolhido. 

Alcançado o ambiente terapêutico, o cliente inicia a jornada do Herói Interior. A trajetória do  Eu no mundo psíquico pode ser visualizada, com muita propriedade, através da narração do professor Laureano Guerreiro: 

“... Naquele momento passei a cuidar e a reconhecer o meu mundo interior, ampliei a escuta de minhas emoções, reaprendi a chorar, a olhar e aceitar as minhas precariedades e minha grandeza, as feridas da criança que me habita, o pai e a mãe que trago em mim, a minha história e a história de minha família. (...) redescobri o meu corpo (...) enfrentei o medo do amor, o medo da solidão e o medo da felicidade. Aprendi a ser mais livre e despertei – adormecida por tantos anos – um pouco da minha alegria por estar vivo...” (A Educação e o Sagrado, pág 15) 

A jornada vai do estágio de limpeza emocional, o mais dolorido, por tratar das feridas, para o estágio do autodesenvolvimento. Neste último, o Herói Interior alcança a visão necessária de seu mundo psíquico, passando a cuidar de si mesmo, extraindo lições de suas próprias experiências. 

Com a assistência do terapeuta, o cliente realiza excursões ao mundo dos seus sentimentos, indo ao encontro daqueles sentimentos que são difíceis, perversos, perturbadores, inconfessáveis, pecaminosos, que jazem escondidos. Apesar de doloroso, o contato com eles torna-se libertador. 

Estes encontros resultam na mudança de paradigma: mudança no olhar do cliente. Ele deixa de estar no outro. Elimina a visão do outro como o culpado dos seus problemas, abandona a atitude de exigir que o outro faça ou seja o que deseja para se sentir feliz, encerra a exigência de que as coisas saiam do jeito que ele quer, reconhece que não precisa mais exercer poder sobre o outro, manipulando-o. Passa a voltar-se para si próprio. Não se vê mais como o culpado, sai da compulsão para a aprovação, abandona  a necessidade de ter poder sobre o outro, deixa de acionar defesas psicológicas para fugir do dever, erradica de si crenças perniciosas, tais como superioridade, inferioridade, escassez, abrigo e proteção, liberta-se do lado “coitadinho” e do sentimento de culpa. 

Vivendo a cultura terapêutica adquire profunda compreensão da Vida e de suas leis espirituais, conexão com o Divino expressada na forma “Pedis e Obtereis”, vivência da Sincronicidade, que é estar no lugar certo, na hora certa, com uma profunda capacidade de permissão e de entrega, fazendo acontecer o que tem que acontecer e crendo que tudo está sempre certo no Universo.  
Então, quem não deseja viver assim, não é mesmo? 


Por Silvio Farranha Filho – psicanalista 


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